Por Luiz Augusto
Tentar entender (ou explicar) a implicância que estamos vendo com relação a BvS seria deselegante e desnecessário. É o mesmo que criar comoção num ambiente já carregado. No entanto uma tendência parece muito clara, a do “senso comum” suplantar o bom senso. Tornou-se extremamente senso comum ir ao cinema não mais pela diversão e sim pelo prazer (babaca) de encontrar defeitos nas obras cinematográficas, sejam elas quais forem. Isso não é exclusividade de BvS, pois, tenho presenciado isso em todo tipo de filme, por exemplo: No término de “A Bruxa” existiam 2 grupos bem distintos, aqueles que imergiram na experiência do filme e se apavoraram (eu incluso) e os que não entenderam xongas e teciam as críticas e observações mais estranhas que a própria estranheza do filme. Outro exemplo foi o Deadpool, sim o extraordinário Deadpool (um dos filmes mais foda do ano de 2016) foi vítima inclusive de afirmações nas quais, o mesmo era tido como uma ode ao machismo e totalmente desprovida de nexo em seu roteiro (!?!)...
Obras fabulosas como TDKR, Vingadores (sim esse filme tem relevância), Star Wars - O Despertar da Força e tantas outras riquíssimas no quesito entretenimento foram execradas por pseudo-criticolóides de ocasião (alguns inclusive com status de jornalista), de uma forma tão intensa, que isso parece ter se tornado uma prática. A rede social hoje, mais parece uma grande gincana virtual onde vence aquele que espezinha melhor a bola da vez, que nesse caso é BvS. Chega ao extremo de, na falta do que falar tem gente malhando o filme por que usaram CGI nas cenas do Batmóvel, outro reclamou que a Mulher Maravilha usava espada e escudo (?) Muitos reclamam da Lois Lane, outros dizem que o Lex Luthor parece o Coringa... E por aí vai, uma crescente onda de ódio fomentada por descontrole emocional, falta de sexo (que acredito ser o caso de muitos) e um claro, compromisso com a ignorância. Sim ignorância, isso mesmo!!! As conseqüências podem ser funestas e o motivo é simples. O fã não é o detentor dos direitos de seu amado personagem e sim uma empresa.
E como tal os executivos da mesma vêem aquilo que sabemos (e entendemos como arte e entretenimento) meramente como um produto a ser explorado, se isso não der lucro, os caras trocam o produto ou tiram ele do mercado. É simples assim! Não estou dizendo que devemos aceitar qualquer coisa que nos empurrem 3D adentro, porém, mais uma vez voltamos ao quesito bom senso. Lembro-me que em 2005 quando Batman Begins foi lançado, embora tendo logo de cara uma boa aceitação do público, houve muitas críticas quanto ao fato do Nolan explorar o tema Batman num contexto mais crível. Gente, isso era uma proposta, você não é obrigado a aceita-la, mas precisa respeita-la! Em 3 filmes e quase 10 anos depois, o cineasta nos entregou exatamente o que prometeu.
"Ahhhh! Mas Luiz, eu não gostei do Bane!!!" Tudo bem cara é sua opinião eu respeito isso, porém não muda o fato de existir todo um trabalho de pesquisa e transposição desses personagens que também deve ser respeitada. Assim é com os trabalhos do Zack Snyder, hoje, mais do que nunca, ele é tratado como um déspota cinematográfico, mas ele nunca se propôs a ser o que ele não é... Zack Snyder é um de nós, um nerd apaixonado pelo que faz e o faz apaixonadamente. Ao longo de sua carreira ele nos entregou o melhor que estava ao seu alcance e isso merece ser respeitado. Não consigo entender esse ódio todo com seus trabalhos. Opinião eu entendo, ódio não! Simplesmente por que não há motivo para tal. E com BvS não é diferente. Existe um esmero, um cuidado com a execução desse filme, com sua produção.
Como Batmaníaco e como cinéfilo, procuro acompanhar o maior número de informações acerca das produções que me interessam e não foi diferente com BvS. Desde o anúncio feito na “Comic Con”. Passando pela (acertada) escolha do Ben Affleck e de todo o elenco que foi divulgado, vimos muito mais acertos do que qualquer outra coisa. Decisões e inspirações para a construção do filme fazem parte da experiência de vê-lo pronto. Conversei com pessoas que criticavam a produção e nem ao menos sabiam coisas básicas, como a presença da WW no filme, por exemplo. E essas mesmas pessoas (totalmente ignorantes do que e como foi feito), hoje se apresentam como profundas conhecedoras de cinema e universo DC... Duvido que tenham pescado 1/3 dos easter eggs e referências, e ainda assim abrem uma boca do tamanho da do “Mike Jagger” pra falar mal do filme, e pior, se ofendem quando alguém fala o óbvio: "Vey, você não entendeu a proposta!" Isso não que dizer que a pessoa é burra, só que ela deixou escapar algo importante e se perdeu no caminho.
Vamos por a “barba de molho” e aceitar o fato de que BvS veio pra ficar e que, independente de “achismos” ou gosto pessoal, ele será tão bem vindo quanto os acertos e equívocos (que são muitos) cometidos pela Marvel/Disney, Sony, Fox e companhia LTDA (mesmo!). Outra coisa importante de ser dita, é que cada empresa tem sua própria noção de como apresentar seu produto, certo ou errado, cada uma tem sua assinatura peculiar. A Marvel optou por trabalhar um tom mais aprazível, mais aconchegante (eu diria) mais Disney... - Mas Luiz EU ACHO ISSO UMA MERDA!!! Fôda-se mano, a parada é do cara deixa ele... Eu não sou obrigado a consumir, assisto por que gosto de filmes. Particularmente percebo que essa fórmula da Disney há de se desgastar para alguns filmes de heróis, afinal o humor esperto de “Guardiões da Galáxia” e “Homem Formiga”, não pode ser o mesmo de um “Doutor Estranho” ou até mesmo de um “Vingadores”, por exemplo. Assim como o característico elemento sombrio do Batman não deve se estender a um Shazam... A verdade é que o público é difícil de agradar, mas isso não dá a ninguém o direito de escrotizar uma obra fabulosa com BvS.
Quando muitos disseram que já tinham visto tudo nos trailers, o “desenrolo” e o desfecho do filme mostram o contrário. Agora, mais do que nunca é a hora de evocar “São Borgo”: -Somos fãs, queremos service! O Batffleck entregou o que prometeu. Um Batman fundamentado no evangelho sagrado segundo Frank Miller e contextualizado com o momento e a proposta de um DCEU. Um Batman que nunca superou a perda dos pais, e isso é sim sua força motriz. Remorso, perda e culpa lhe são tão familiares quando a escória e o submundo... Um Hades moderno, atormentado pela própria condição... Vivendo sob a égide de um inferno pessoal quase intransponível, cansado de uma busca quixotesca. Um Superman ainda não totalmente consolidado como o azulão escoteiro, porém caminhando para tal. Suas dúvidas e incertezas são latentes, um “deus” tão arquetípico quanto o próprio Zeus. Seu refúgio se faz nos braços da amada e seu Olimpo jaz na sapiência de sua mãe (demasiadamente) humana. E isso é lindo.
Uma Mulher Maravilha, cuja arma é o conhecimento, tendo o homem, não como um adversário somente, mas sim como um diamante a ser lapidado, ainda que isso tenha que ser feito na porrada. Uma Atena moderna, inteligente e sagaz, segura de sua missão e com uma disposição de ferro. Com certeza ela é a mais feroz sobrevivente... A mais pura guerreira... Brilhando, odiando... Possuindo “nossa” pessoa. O Flash desempenha seu papel quase miticamente, afinal, Hermes é o mensageiro dos deuses. Um Aquaman “Poseidônico”, imponente, poderoso e senhor de seus domínios. Um Cyborg totalmente dentro de contexto e pertinente no momento em que vivemos, um “Prometheus” moderno, brilhantemente apresentado. O “Overture” é quadrinístico operístico com uma beleza ímpar, capaz de nos lançar dentro da trama sem muito esforço, pois a mesma nos é familiar em essência.
As pausas são claramente desenvolvidas para fomentar o tema central do filme. A manipulação. Magistralmente engendrada por Lex Luthor com o objetivo egocêntrico que lhe é tão característico. Aliás, a atuação intuitiva e introspectiva do Jesse Eisenberg, constrói um antagonista psicótico, pavorosamente carismático. O elenco ainda é abrilhantado com a experiência de Lawrence Fishburne, mais do que à vontade no papel. Ele nos entrega um Perry White que beira a perfeição, e com a importante função de ser um alívio cômico muito bem trabalhado. A Lois Lane, nem se fala. Parece ter saltado das HQ’s com sua marcante característica de ser a melhor repórter investigativa do Planeta Diário. Simplesmente foda. Temos ainda as relevantes participações de personagens apresentados em MoS e que são levemente aprofundados na trama, dando bastante credibilidade a mesma.
Desnecessário exaltar o poder da atuação do mestre Jeremy Irons, que dá vida a um amálgama de vários Alfreds (inclusive Terra Um), com uma destreza quase cirúrgica. E pra finalizar, um dos pontos altos do filme: As “Marthas” ou o “fator Martha” (como preferir), numa jogada engenhosa e igualmente sensível, o roteiro apela para a outrora negligenciada importância que essas duas personagens tem na vida de seus filhos, estando presente ou não. Martha Wayne e Martha Kent são brilhantemente exploradas como o “link” emocional que fecha um ciclo de sofrimento e discordância e se torna a gênese da notória amizade dos protagonistas. Elevando a um patamar épico o subtítulo “Dawn of Justice”.