sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Review: Batman - O Retorno


Aproveitando que o Natal é amanhã, o nosso colaborador Diogo Oliveira vai colocar aqui o review deste Bat-Clássico Natalino, e para muitos, o melhor filme live action do Homem Morcego dos anos 90.

Após o ano de 1989, o mundo, especialmente de quem era fã do Homem Morcego, era um lugar feliz. Batman tinha estrelado seu primeiro longa metragem sério, sem ligação alguma com o seriado dos anos 60, e virou um fenômeno de bilheteria e cimentou o personagem como um dos ícones da cultura pop. Mas acima de tudo, das vantagens e desvantagens que o filme de 1989 trouxe, ele tinha personalidade. Era diferente do que havia sido visto nos desenhos, series de TV, e de certo modo até nos quadrinhos.Tim Burton conseguiu atribuir ao filme uma qualidade atemporal, mesmo não tendo a liberdade que desejava, por ser um diretor relativamente novo no ramo.

Mas após a montanha de dinheiro que o ‘Batman’ fez, junto com sua credibilidade como diretor cimentada, o fez ser chamado a voltar ao universo do herói. Mas agora ele tinha um diferencial: ele tinha livre liberdade criativa.Ele poderia fazer o que quiser sem necessariamente se prender ao “cânone”.E assim, o mais fiel filme do Batman ao quadrinhos feito nos anos 90 foi concebido. Se Batman – O Retorno não segue exatamente ou não adapta literalmente o que acontece nos quadrinhos em forma de acontecimentos, as personalidades de seus personagens são muito bem trabalhadas e se aproximam dos quadrinhos de maneira até então nova e ousada para um publico comum acostumado a filmes mais leves e a um publico que já era fã do personagem ao ver um aumento de maturidade grande de um filme para o outro.

A história começa muito anos atrás, do natal de Gotham City, onde dois pais (um deles o lendário Pee Wee Herman) jogam seu filho, sua pequena aberração, dentro dos esgotos de Gotham.30 anos depois, vemos ele surgir do esgoto como Pinguim (Danny deVitto), junto com sua gangue do Triângulo Vermelho, um circo falido que entrou pro ramo do crime, toca o terror na cidade durante o período de Natal.Suas intenções são um mistério, e se aliando ao milionário da industria e mal caráter Max Shreck (Christopher Walken), levanta as suspeitas sobre Bruce Wayne/Batman (Michael keaton) sobre as reais intenções do "homem-pinguim do esgoto".Pra completar o quarteto,a chegada da misteriosa Mulher Gato (Michelle Pfeiffer) e sua ligação com os 3 principais homens da trama(Oswald,Max e Bruce) pode definir o curso da ação na tentativa de salvar ou condenar Gotham de vez.

Uma das coisas que eu acho acho muito bacanas em relação a esse filme é que na verdade ele é uma busca a felicidade, de certa maneira distorcida devido aos seus personagens e dramática por seu clima de opera grega.Mulher Gato,Pinguim e Max Shreck buscam algo que possam lhe dar plena felicidade e sentido de viver, para se sentir completos como pessoas.Estranhamente,o único que não procura uma mudança em seu estilo de vida (aparentemente) é o Batman/Bruce Wayne, que com a chegada de Selina Kyle em sua vida afunda de cabeça pessoalmente na situação, já que suas duas personalidades andam tão entrelaçadas que sem querer Selina realmente representa a invasão/ entrelaçamento entre essas duas vidas da qual ele vive.

O Pinguim tem a necessidade de ser amado, de ser o centro das atenções, ao mesmo tempo que tem poder de controlar a mão de ferro e muito trabalho sujo uma organização ,criminosa ou não, que a sociedade rejeita ou aceita independentemente de status -$$$- e principalmente, poder.Seus motivos permanecem misteriosos durante um bom tempo do filme, já que a sua necessidade de ser amado desvia de seu plano original, mas quando ele é revelado (assasinato de crianças, seguido de genocídio) mostra o quão monstruoso ele é, e novamente fazendo uma ligação por comparação com Bruce Wayne/Batman. Oswald Cobblepot é o monstro disfarçado de pessoa respeitável (aí também fazendo um elo com Max Shreck) diferente do Batman (que é uma pessoa respeitável disfarçado de monstro), que ainda sofre devido ao trauma com seus pais (assim como Bruce), mas que devido a sua vida cheio de rancor e crimes ele escolheu um caminho mais triste,violento e trágico, comprovando sua identidade como monstro.

Mulher Gato, além da ideia anárquica de tirar o que pertence ao homem, desajustá-lo, também deseja ser feliz e se sentir completa como mulher, mesmo que sua mente já esteja em pedaços.Além, de uma certa ligação sobrenatural que o diretor colocou com seu envolvimento com os gatos, o lance das 9 vidas (aqui é 7, tudo é uma questão cultural) relacionado com suas "mortes", não físicas, mas psicológicas da personagem, e isso reflete nas sua roupa e nas suas ações, terminando com ela ficando cada vez mais obscura, pois não tem uma razão para fazer justiça.Novamente, a falta de realização a leva a loucura, uma loucura que ela gosta por não ver justiça para pessoas más num mundo distorcido,como a sua ultima cena do filme revela.Não haverá castelo com um príncipe encantado para ela, assim como nunca terá um princesa a espera de Bruce Wayne, porque seus estilos de vida e seu pontos de vida sobre justiça não permitem ficarem juntos.

E Batman, num sistema quase mecânico de combate ao crime, praticamente sem aproveitar a vida de seu alter-ego, Bruce Wayne, quando se apaixona, vai sem freio e sem medo. Mas seja por causa dele próprio ou de fatores externos, seu problemas se cruzam, porque Bruce Wayne é Batman, e vice versa, e por ele respeitar suas ambas identidades e ter uma força motor do bem o guiando, o impede de quase cair na loucura completa.Uma coisa que é fato é que o personagem não aparece muito no filme,mas quando ele aparece é algo realmente necessário a trama e você se sente bem ao ver ele na tela.Ele literalmente chega no filme, faz sua parte, salva o dia e ajuda a história a avançar.De certo modo todos os personagens do filme são espelhos opostos de Bruce Wayne/Batman, o que não torna o fato do personagem não ter tanto tempo de tela algo tão ruim.Como foi dito acima, Bruce/Batman está feliz como jeito que leva a vida.Ele trabalha, sai com garotas, mas ninguém fica sabendo muito sobre sua vida,do que ele faz ou deixa de fazer.O que importa pra ele que toda a noite ele está lá, vigiando a cidade, sendo o Batman e protegendo as pessoas.

O quarto e importante elemento no filme é Max Shreck.Um vampiro no sentido mais realístico da coisa, manipula as pessoas para depois sugar sua vida e energia(até literalmente falando).A intenção dele é poder, é controle, lidando com a loucura constante de uma cidade de loucos enquanto procura manter sua máscara de bom moço sobre seus atos ilícitos.Quem é descartavel ele descarta, tem é perigoso ele manipula, quem tem poder mas não sabe como usar ele manipula.De certa maneira a dupla com que ele faz com Pinguim é bacana,pois ambos são pessoas que tem pensamentos semelhantes que forma uma certa amizade invisível, ao mesmo tempo que eles trairiam um ao outro se fosse necessário.

Um dos elementos mais interessantes do filme é a omissão em relação a origem do Pinguim.Você tem pedaços de como certas coisas acontecem, e sua mente somente junta as peças e monta a trama.Assim, como a ideia de que o Pinguim sabe dos segredos de varias pessoas, o que gera um outro "momento Vicky Vale" com as plantas do Batmovel na posse do Triângulo Vermelho (apesar de que ao redor dos blueprints há vários desenhos feitos a mão, dando a impressão que eles investigaram o funcionamento do Batman e juntaram as peças).Também deve ser elogiado a influência forte do cinema expressionista alemão no filme, evoluindo o que foi visto no filme de 89 em termos de estilo.

Mas o que podemos dizer do que se trata o filme? Justiça.Dualidade.Drama.Escuridão. Todos estão presentes em Batman - O Retorno, que sim, tem suas pequenas falhas como filme e por causa de algumas escolhas que polêmicas a parte, conseguem torná-lo ainda mais especial.O fato do Batman aparecer pouco,ou até a mistura entre o real e o surreal(leia-se: pinguins com misséis) não chegam a estragar o peso do filme como filme e adaptação do personagem.os sentimentos são reais, os dramas pessoais são reais, dentro de um escopo tirado dos quadrinhos mas levado a sério, muito mais a sério que o espectador estava acustumado com filme de HQ.Tim Burton tinha consciência disso, e era era a sua marca dentro dos Bat-Filmes: era uma HQ com uma realidade estilizada,mas mesmo assim serio e real, e dark como a atmosfera do personagem pede.

E no meio da geração Nolan e de seus geniais filmes do Homem Morcego, as pessoas vêem redescobrindo Batman O Retorno, e descobrindo que dá pra ser dark e sério sem ser necessariamente hiper realista. Batman tem um escopo maior do que isso. Em 1992, até então, ele atingiu seu ápice ali.

NOTA:9.0

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