Review feito por Diogo Oliveira
No começo de tudo, tínhamos um fã com um sonho.Michael Uslan, jovem universítário e fã de quadrinhos, abalou o mercado de HQs ao criar o primeiro curso em nível universitário que procura estudar e entender o que eram as revistas de quadrinhos, seja as mais independentes até as clássicas revistas de super heróis.Mas ele tinha planos mais altos, mais ambiciosos.O seu sonho era ver seu herói dos quadrinhos preferido, Batman, se retratado do jeito que deveria ser.dark.Soturno.profundo.Sem nenhum elo com a serie de TV da decáda de 60, do qual ainda estava fortemente ligada ao personagem, ao mesmo tempo que nas próprias revistas o Batman estava cada dia mais e mais dark.Uslan sentia que o mundo precisava de uma nova visão de um personagem atemporal, e travou uma batalha de 10 anos até isso ser concluído, junto com seu melhor novo amigo e lendário produtor Benjamin Melniker, para trazer o Homem Morcego da maneira certa aos cinemas.
Era os anos 80, tempo de histórias revolucionárias, e de um mundo mais dark, mais "pé no chão", ao mesmo tempo que visualmente cada vez se estilizava mais, procurava trazer algo novo. Duas HQs principais para pavimentar o caminho do personagem ao cinema foram dois clássicos do personagem: A Piada Mortal (The Killing Joke) de Allan Moore e O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Returns) de Frank Miller, eram visualmente vibrantes, uma interpretação fresca, revolucionária e incrível do personagem.Misture essa visão com um diretor em franco crescimento, Tim Burton, e que tinha uma visão artística compativel com o personagem, e em finalmente, no ano de 1989, o primeiro filme, com F maiúsculo, do personagem chegue as telas.
Vamos a história: na cidade corrupta de Gotham City, a máfia domina tudo e todos, perante uma policia inofensiva e um governo sem pulso.Nessa situação, o único a fazer justiça de fato nesta cidade é um misterioso vigilante conhecido como Batman, descrito como "um morcego gigante". Investigando as operações do misterioso Batman na cidade, está o desacreditado reporter Alexander Knox (Robert Wuhl) e a fotografa Vicky Vale (Kim Basinger),que começa a ter relações com o misterioso bilionário Bruce Wayne (Michael Keaton), sem saber que as ligações entre Wayne e Batman são mais próximos que todos imaginam.
Em paralelo a tudo isso, após uma emboscada armada pelo seu próprio chefe, o gangster Jack Napier (Jack Nicholson) tem seu rosto desfigurado e mergulha em resíduos toxícos saindo com a coloração de sua pele modificada, levando-o a insanidade e a adotar o nome de Coringa, prometendo vingança a pessoa da qual não conseguiu lhe salvar, no caso Batman, e mergulhar Gotham na mesma insanidade do qual vive.
O filme não poderia funcionar se não houvesse uma obrigação de tornar seus personagens principais palpáveis.Michael Keaton, mesmo com muita polêmica em torno de sua escolha para o papel, conseguiu tornar Batman e sua psique sólidas, mesmo que o destaque ao mesmo no filme não seja tão grande assim, pois principalmente o objetivo do filme é realmente desvendar o homem detrás da mascara.Alias, um Bruce Wayne mais "quieto" e fora de cena é uma escolha interpretativa do Tim Burton para o personagem (uma escolha que alguns amam outros odeiam), que faz questão de se manter invisível mesmo sendo um dos homens mais ricos daquele país.Um cara fechado e que mergulha fundo nos poucos relacionamentos que possui, e que do fato de seus pais não terem sido vingados, criou em sua mente a necessidade de se fazer justiça, mesmo que isso o leve a extremos, como a própria figura do Batman.
Já os papéis de Vicky Vale, a dama de branco que chama a atenção dos personagens principais do filme, e de Alex Knox, eles servem como o olhar do publico e guias turisticos "seguros" sobre o que acontece em Gotham e como desencavamos as informações destes personagnes.Muitos dos fatos principais em relação a desvendar o passado e consequentemente a psique de Bruce Wayne, reafirmando a ideia de aprofundar aquilo que as massas consideram saber sobre o personagem, é diretamente relacionado ao ponto de vista deles e do trabalho jornalistíco.Eles, nos papéis de jornalistas, servem como olho crítico para todas as loucas mudanças que acontecem no filme.
Já a figura do Coringa foi totalmente montada para esse filme, apesar de ainda sim ser um reflexo não só do Coringa das HQs, mas do próprio espírito do filme em si (explicarei melhor isso mais abaixo).Se Jack Napier era um louco medicado, que raramente se permitia abraçar a loucura, e extremamente narcisista, o seu Coringa quer que todos entendam a sua dor, e ao mesmo tempo que todos sejam como ele ou sinta o que ele se sente.Um vilão expositor, que mostra sua cara falsa afim de que retire o Batman de sua toca, pois ele irá causar algum tipo de tumulto, e quer que sua batalha contra seu nêmesis seja algo que se assemelhe a uma ópera, épico.
Engraçado que, com o tempo, a própria estética da construção do Coringa tenha se tornado um espelho para o que seja o filme em si: o filme no caso pega diferentes versões do personagem, seja da TV ou dos quadrinhos, e junta com aquilo que esperávamos ver mas de uma maneira diferenciada e com toques de varias pessoas envolvidas no processo de criação, mas ao mesmo tempo dando uma distancia do material original sem descaracterizá-lo.Isso é importante, especialmente numa época onde quadrinhos ainda eram tratados como coisa infantil (apesar que as melhores histórias da época comprovam o contrário), e uma mudança do cenário hollywoodiano onde era possível levar a sério esse tipo de material.
Mesmo tendo momentos onde é claro o aprofundamente em certas aáeas até então ainda não exploradas do personagem, você ainda enxerga no filme uma certa necessidade de que o escapismo do qual a serie de TV proporcionava muito bem seja encaixado ali, e essa façanha é feita sem interromper o clima que mitura aspectos urbanos,darks e retrôs (brilhantemente feitos pelo falecido Anton Furst) seja maculado.Há uma certa diversão do fato de termos o Batman tentando interromper o caos do Coringa, assim como há do espectador em assistir aquilo.
Como filme, 'Batman' é importantíssimo por pavimentar o caminho dos blockbusters como conhecemos, sejam como espetáculos cinematográficos ou como adaptações de HQs, tão comuns hoje em dia, mas raridades na época que saiu.mas entrando na área de adaptação do Batman, como podemos dizer que ele saiu? Vamos utilizar o "esquema Tostines" aqui: se esse filme chegasse hoje em dia faria tanto sucesso assim? O negócio é que era o filme que na época precisava sair, mas não era O filme que o personagem seria transportado com maior sucesso para as telas.Ele precisava mostrar que o personagem havia uma psicologia a ser explorada, e que vinha de um mundo totalmente diferente do que a serie de TV sessentista apresentava.
Mas ao mesmo tempo, 'Batman' apresentava O QUE ERA o Batman, mas não exatamente QUEM ERA o personagem.Um problema ao longo de todos os filmes noventistas do Batman era que procurava explorar pedaços soltos da mitologia, ao invés que pegar as bases principais e primordiais dos personagens e ir explorando cada vez mais profundamente nas sequências, como Nolan fez.No caso do filme que estamos falando, você percebe o poder da máfia na cidade e sua funcionalidade, e a impotência do governo e policia, representados aqui por James Gordon (Pat Hingle), Harvey Dent (Billy Dee Willians) e o prefeito (Lee Wallace), mas de forma bem branda, dando mais destaque as interações entre Batman, Coringa e Vicky Vale e não se aprofundando em questões que eram importantes para a composição daquele cenário.
Incrivelmente, certas questões mais profundas dos personagemnse da cidade de Gotham em si foram melhor exploradas em sua sequência, Batman - O Retorno, do que aqui, mas o filme gerou algo que o personagem precisava até então: empatia.O filme foi a coroação da extrema maturidade que o personagem alcançava e sua ascendente popularidade e relevância que até então o Superman dominava, mas agora com todos aceitando sua "nova" e até então definitiva visualização: Batman é uma criatura da noite, e até então ninguém lhe poderia tirar isso.O filme trouxe a diversão do seriado, com a profundidade da qual o personagem estava sendo explorado e trouxe, como filme, uma experiência inédita pra industria que pavimentou o caminho para inúmeras outras coisas, e consegue ainda sobreviver o teste do tempo.
NOTA: 8.0
Respeito o filme. Porém, acredito que a "nova visão" seja mais próxima do que entendo do personagem até em relação A Piada Mortal e O Cavaleiro das Trevas.
ResponderExcluirAprecio muito a loucura e insanidade do Coringa (Nicholson), o resto acho apenas um bom primeiro passo.