sexta-feira, 12 de julho de 2013

Review: Man of Steel

Escrito e publicado originalmente por Diogo Oliveira.


Em 'Superman Returns', foi perguntado durante todo filme o porque do mundo precisar de um Superman. O filme tentou responder a essa pergunta, mas algo ficou claramente claro. O Superman do qual crescemos e com o passar do tempo todos achavam que era o definitivo, o de Christopher Reeve, não se encaixava no nosso mundo mundo cheio de áreas cinzentas. E isso automaticamente gerou uma reação nas HQs (o que de fato tem o Superman que realmente interessa), se perguntando como encaixar o Superman no contexto do mundo contemporâneo. Com os anos se passando, o reboot da DC Comics chegou, mostrando uma possibilidade disso porém sem abandonar os conceitos que fazem o personagem ser o personagem. Será que o filme dirigido por Zack Snyder, escrito por David Goyer e apadrinhado por Christopher Nolan conseguiu consolidar o que foi feito nos quadrinhos e realmente recriar o Homem de Aço para as futuras gerações? Contém SPOILERS:

O filme começa em Krypton, prestes a ser destruída, e com o nascimento de Kal-El, o primeiro parto natural em uma sociedade que desenvolve os seus bebês e sua posição social geneticamente. Com o planeta preste a explodir, Jor-El (Russel Crowe) recomenda ao conselho a evacuar todo o planeta e ir para outros planetas, como seus antepassados anteriormente fizeram. Só que General Zod (Michael Shannon) tem uma visão bem diferente das coisas: ele quer pegar o Codex (que contém todo o DNA Kryptoniano que gera os bebês artificialmente) e recriar o planeta a sua maneira, baseado num governo militarista. Jor-El consegue roubar o Codex enquanto Zod tentava aplicar o golpe de estado, e transfere todo o DNA do Codex para seu filho, que o despacha para as estrelas para salvá-lo da iminente destruição. Após isso, Zod e seus comparsas são aprisionados na Zona Fantasma.


O jovem Kal-El acaba caindo na Terra, aonde é criado por Jonathan (Kevin Costner) e Martha Kent (Diane Lane) como Clark Kent (Henry Cavill), que constantemente procura esconder de todos os seus poderes. Após a morte de seu pai, ele viaja o mundo, tentando encontrar seu lugar na sociedade e secretamente ajudar as pessoas em perigo. Quando encontra a nave de seus antepassados kryptonianos, junto a destemida repórter Lois Lane (Amy Adams), ele descobre qual deve ser seu papel para o mundo: de poder guiá-los e protege-los em uma nova era de prosperidade. mas quando General Zod ressurge em circunstâncias misteriosas para reconstruir Krypton na Terra, Clark terá de ser o herói do qual foi destinado a ser.


Os filmes da DC Comics estão tendo a tendencia de serem mais sérios e realistas devido ao trabalho de Chris Nolan com o Batman, mas como isso se cabê com o Superman? Primeiramente, é abraçado um lado essencial do personagem que ainda não foi bem explorado na telona, que o personagem faz parte de um mundo sci-fi. Se Batman é filho das histórias pulp, Superman é filho de Flash Gordon, Buck Rogers e Jonh Carter, eles lidam com questões humanas e a humanidade em si com elementos fantásticos ao seu redor. Então, assim como 'Superman: Earth One' (uma das histórias que serviu de base para o filme), a questão que fica é: se no nosso mundo, onde eu e você vivemos, existisse alguém como o Superman, qual seria o impacto disso? E isso é tratado brilhantemente no filme, não só da relação do Superman com o mundo como vice versa.


E apesar da obvia influência dos filmes do Christopher Nolan, dá pra perceber que o dono do filme é obviamente Zack Snyder, a partir dos pontos da filmografia dele do qual eu expliquei aqui. Você tem o contexto histórico de descobrimos que nós não estamos sozinhos no universo e do fim de uma civilização, e ainda temos a figura dos heróis e seu conceito de sacrifício: Superman, Jor-El, Jonathan Kent, e general Zod, além de que o herói pode ser representado por uma equipe (Lois Lane, Nathan Hardy, Emil Hamilton e indiretamente Jor-El), e partindo da seguinte a lógica apresentada em Sucker Punch que não necessariamente o personagem principal é o herói da história e o fator de que o vilão também pode ser considerado o herói caso olhando a história por outro prisma, assim como em 'A Lenda dos Guardiões'. A questão visual aqui no caso segue uma lógica mais Riddley Scott + Michael Mann com esteroides do que as explosões estilo Michael Bay podem te deixar entender.


Jor-El, por ser um homem da razão, percebia que o seu mundo precisava não só de uma mudança geográfica, mas também uma mudança de pensamento. Muito do que Krypton fez consigo mesmo é algo que a terra muito bem poderia fazer também no futuro se pararmos para analisar: controle populacional restrito, ovulação apenas artificial e esgotamento dos recursos naturais, além do orgulho (já presente) de que eles seriam intocáveis em relação a natureza que os cerca. Jor-El colocou o Codex em Kal para que no futuro ele seja a ponte entre os planetas e que Clark guie a humanidade para que ela não cometa os mesmos erros. Eu também suspeito (e aí entramos na área das conspirações) de que o Codex no DNA do Clark junto com a radiação do sol amarelo poderia também possibilitar que ele pudesse engravidar humanas, mas aí é puramente suposição minha. No fim Jor-El em vida foi aquele que achou uma solução de os valores que fizeram Krypton florescer fossem levados de alguma forma e em morte acaba sendo mentor do Clark em achar seu destino.


No geral, o filme acompanha a trajetória de Clark Kent em achar seu próprio destino. Ele será a salvação de Krypton, o salvador da terra ou viverá sempre no anonimato devido ao pavor que seu poderes poderiam causar aos humanos. As circunstancias foram jogadas para Clark, e aí que mora o grande calcanhar de aquiles do personagem: as vezes as escolhas não são feitas por nós, mas impostas pelos outros, pelo bem ou pelo mal. A questão é saber se, mesmo que isso vá deixá-lo triste, se ele irá cumprir para o que se propôs. E isso é diretamente ligado a dois personagens do filme, Jonathan (que é a sua família atual na terra) e Zod, (que junto com outros Kryptonianos representam a possibilidade de uma nova família, dessa vez por laços de raça, na terra) e de como as decisões deles moldam Clark, mesmo que contra a sua vontade no momento, o herói que ele irá se tornar.


Jonathan Kent tinha completa noção das possibilidades do filho em ser algo muito maior do que nenhum humano jamais foi, devido a sua natureza tão especial. Por isso seus pais se moldaram como pessoas do bem e agentes do bem para que ele se torne uma pessoa boa, mesmo com a totalmente compreensível proteção paterna de Martha, e especialmente de Jonathan, perante o filho. Quando ele diz que talvez fosse melhor deixar os amigos de Clark morrerem no ônibus, não é que literalmente ele queria dizer isso, mas ele sabe que é o tipo de situação que pode ser o primeiro passo a exposição total de seu filho. mesmo tendo os conflitos entre pai e filho por causa disso, ambos se respeitam e se gostam, e a maior prova de amor dessa relação pai-e-filho é quando Jonathan sacrifica a sua vida para que o segredo de Clark não seja revelado. Esse é o ponto catalizador de que faz Clark sair de Smallville e tentar achar, já como um homem, um lugar no mundo.


Em Krypton, as pessoas já nascem designadas pertencer a certa posição social pelo resto de sua vida. General Zod nasceu para ser um guerreiro, um soldado, e toda sua vida se propôs a ajudar Krypton, mesmo que sua visão de mundo, como individuo seja modificada. Ele vive por Krypton, ele mata por Krypton, e tudo que ele faz é por Krypton ser reconstruída e sobreviver perante o sue julgamento, e no momento que seu planos falham, só resta o ódio a aqueles que estavam em seu caminho. Dá a entender que o desejo de poder chegou a tanto, que ele se alia a criminosos (como Jar-Ux, Faora e Nam-Ek) para impor a sua ideia de civilização, tanto em Krypton quanto na Terra. Zod é movido pela necessidade de proteger e salvar seu povo, e no momento que é literalmente seu único objetivo de vida, só lhe resta a fúria de não cumprir o que geneticamente ele foi criado para ser. Como o próprio diz, lhe "arrancaram a alma", e dentro dele só restou ódio.


Mas aí que está: se o Jor-El mandou Kal a Terra com esse objetivo especifico, e de certo modo sabendo o impacto que isso iria causar em nossa sociedade, no fim das contas ele também não é alguem do qual destino está preso a ele, predestinado por outros desde o começo? Diferente de Zod, Clark tem a plena consciência do caminho que escolheu, mesmo que ele tenha sido de certo modo encaminhado para isso. Ele escolheu isso para si, ele tentou fugir, ele tentou ser outras coisas, mas no fim das contas ele abraçou seu destino, mesmo que isso signifique, como o final indica, de que ele pode também ter a opção de não necessariamente viver preso a um só papel, a um só destino, e finalmente poder levar uma vida normal. Já Zod está preso a conceitos de um planeta morto, preso a um pensamento desde o útero de que ele não poderia mudar ou seguir outro caminho, querendo recriar Krypton na Terra sob um julgamento fascista.


E aí nos chegamos a parte polêmica do filme: havia necessidade de Superman matar Zod? Sim havia. Não tinha como despachar ele pra Zona Fantasma, e não havia prisão no mundo que segurasse ele na Terra. Além disso, como mesmo Zod disse, se ele não morresse ali, ele mataria cada ser humano no planeta. No fim das contas, Superman pede, implora que Zod pare de machucar as pessoas, mas ele não quer saber, só a morte iria pará-lo. Ele mata, mas fica completamente abalado e triste com isso. E esse é o ponto que as pessoas fingem (provavelmente) não entender: a morte ali teve um contexto que estava de acordo com o personagem.


E tudo isso no final serve para demonstrar exatamente qual deve ser o papel de Superman na sociedade: ele deve indicar, por suas ações, qual caminho a humanidade deve seguir (assim como Jonathan Kent), mas nunca impor sua vontade sobre a vontade dos outros (como Zod queria fazer).A morte de Zod se liga com a morte de Jonathan Kent, mostrando aí a "kryptonita" de Superman no filme: apesar dele estar destinado a coisas grandiosas, não necessariamente ele tem controle de tudo ao seu redor, não podendo ser assim se auto-classificar de Deus, e que se ele assumiu esse papel, terá que assumir também essas responsabilidades,  questões essas que foram fortemente tratadas nas HQs da época passada.


As vezes somos forçados a fazer coisas que não necessariamente queremos para o bem maior, e se sentimos alguma emoção com isso, nos faz sentir humanos e crescermos como tal. Jonathan se sacrificou por seu filho e Superman teve que matar Zod (opção dada pelo mesmo) antes que ele pudesse matar todos na Terra, mesmo que isso corte os laços com seu planeta natal. No fim das contas, a vida tem muito mais tons de cinzas do que somente preto e branco. A vitória da Terra custou a "morte" de Krypton, e se ele sente alguma emoção a partir do disso, ele comprova de que fato é humano, e não um "novo deus" em que todas as suas decisões são friamente calculadas e postas em prática. Nesse ponto, Clark se torna o homem que Jor-El e Jonathan queriam que ele fosse, os dois pontos de vista em um só.


O que merece também destaque aqui também é Lois Lane, feita por Amy Adams que nos dá uma cópia carbono da personagem das HQs. Audaciosa, xereta, ótima jornalista e com bom coração, Lois descobre a passagem para a Nave Kryptoniana e lá conhece Clark, da qual salva sua vida. Procurando pistas sobre seu misterioso salvador, ela dá oportunidade de Clark finalmente poder se abrir com alguém da qual possa revelar todas as suas dores e anseios, deixando o destino dele literalmente nas mãos dela, da qual sente a responsabilidade da decisão e recua. Lois acaba se tornando a primeira amizade verdadeira de Clark, no sentido em que ele pode ser totalmente franco com ela sobre todos os segredos de sua vida, além da conexão que ambos criam devido aos eventos recentes, que deixaram a vida de ambos de ponta cabeça.


Outro destaque também vai para Diane Lane, se despiu da imagem sensual ligada a ela fazendo uma mãezona do interior que mistura serenidade, sabedora, força e muita emoção. A Faora de Antje Traue elimina qualquer comparação com a Ursa (que de fato são personagens bem diferentes) mostrando uma general que não dá valor algum para a vida de seus inimigos, e tem até certo prazer de ver eles morrerem, só dando valor a aqueles de que certo modo tentar alcançar o nível dela. Laurence Fishburne como Perry White consegue encontrar o equilíbrio entre o chefe linha dura e de certo modo a figura mentora/paterna dentro da equipe de jornalismo.


Vou começar a falar sobre  os easter eggs do filme, e seu sinal bem claro de que de fato há um Universo DC inteiro a ser explorado lá fora, com um personagem do qual mantiveram um ótimo segredo n]ão falando que ele estava no filme: Nathan Hardy, vivido por Christopher Meloni, é na verdade o personagem clássico de Jack Kirby (e do Superman) Guardião, que passou por um processo de 'Jonh Blake-zação". Apesar do nome diferente, outros elementos como a atitude, a coragem e especialmente o papel dele dentro do filme são bem semelhantes ao personagem das HQs: de um agente que coordena ao lado de uma agencia governamental (seja a CADMUS, A Policia Cientifica de Metropolis ou no caso do filme o Exército Americano) as ações da mesma, ajudando o Superman a lidar contra seus inimigos comuns que afetam a vida das pessoas normais, refletindo especialmente o papel do personagem na saga 'Nova Krypton', tendo inúmeros conflitos com os Kryptonianos do mal, em especial dentro do filme com  Faora.


Além disso, o filme tem inúmeras outras citações ao Universo DC, algumas mais explicitas (como a LexCorp), outras bem escondidas (como o logo da Wayne Enterprises), e algumas ainda sem resposta oficial se são ou não são easter eggs (Carol Ferris? Aquaman? Victor Stone?) que eu espero que no fundo sejam dicas sobre o que podem vir não só para as sequencias do Homem de Aço (caso ela for só isso mesmo) como para o futuro filme da Liga da Justiça. Além disso inúmeras cenas inspiradas em uma serie de quadrinhos dos anos 80, 90 e 2000, incluindo 'Thy Kingdon Come' (da Sociedade da Justiça) e 'Batman: O Cavaleiro das Trevas' de Frank Miller, que comprovam que pegaram o que tinha de melhor sobre o personagem nas ultimas décadas para compor o filme.


E sobre a destruição em Metropolis, tão comentada por alguns por aí, foi realmente necessária? Sim, por dois motivos. O primeiro, e mais obvio de todos, é que temos alienígenas fazendo terraformação em nosso planeta. Eles estavam querendo mudar o clima e a geografia de nosso planeta, e bem, isso mataria toda a vida na terra, inclusive destruindo todas as cidades ao redor. E segundo, e mais importante, isso estabelece a principal diferença entre os heróis da DC em relação a outros heróis: eles são representações de Deuses, e quando eles colidem, tudo ao seu redor é afetado, e isso é mostrado de maneira realística. Querer que as lutas mostradas não tivessem impacto nenhum é como ver Power Rangers e imaginar que quando os robôs gigantes lutam contra monstros gigantes, ninguém morre ou é afetado diretamente pelo conflito. Mas agora falando do que há de ruim no filme, citaria que é o 3D (que está ali só de enfeite), e no ritmo frenético do filme as vezes você se perde de como eles jogam as informações para você (mas ao menos eles não deixam de fazer isso), aí é um fator de você realmente estar prestando atenção.


Por mais que seja considerado clássico, o Homem de Aço apresentado por Christopher Reeve é apenas uma versão derivada do Superman das HQs (assim como o Batman do Nolan) e  para que o personagem sobreviva, ele tem que passar por mudanças que o tornem relevantes para a sociedade em que vive, para o mundo em que vive. Um personagem só dura 75 anos (e além) se ficar antenado com o mundo real. Não vejo a interpretação feita no filme de Snyder como algo negativista, como muitos dizem. A figura em si do Superman inspira que sejamos pessoas melhores e que devemos dar valor as coisas realmente importantes na vida, por mais pequenas que sejam. O mundo quase acabou. Não estamos sozinhos no universo. Essa é uma experiencia que muda profundamente a sociedade humana, não de um jeito negativo. Além disso, é literalmente a primeira missão de Superman como herói.  Em 'Man of Steel', vemos a primeira vez que ele age protegendo a Terra de algo, e é forçado a lidar com questões morais bem diferentes daquelas nas outras encarnação cinematográficas. O que vemos ali é literalmente a gênese dele como herói, a serie de eventos que molda ele como o Superman que todos (fãs de HQs e o grande publico). Mas não se enganem: esse é O Superman. E ele veio pra ficar.

NOTA: 9.0

PS: Você vai sair do cinema querendo ouvir descontroladamente Southgarden, por causa desta musica aqui.

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